manifesto


Quero lhe falar docemente
Escutar-me-á por certo
Não chamarei mais pela noite,
Sou alvo e branco,
Sou ternura e posso escavar meu próprio buraco.
Quero lhe falar docemente
Das coisas mais cruéis que vivi
Deitado na minha cama.
Posso enxergar o resto do mundo,
Posso comemorar a vitória do flamengo Campeão mundial,
Como apunhalar-me de dor sofrendo com a polemica e o comitê solidariedade,
Posso morrer de infarto a qualquer momento,
Ou fazer greve de fome,
Virar jóquei,
Virar um carrasco,
Ou me tornar um herói,
Posso deixar de ler os jornais como já o fiz inúmeras vezes.
Mas não adianta, as noticias entram de qualquer jeito
Peã janela,
Pela fechadura,
Pela porta.
Invadiu minha casa
Apoderou-se da minha paz.
Tenho que fechar os meus olhos e me cegar
Fechar meus ouvidos e me ensurdecer
Fechar minha boca e me calar.
Mas as noticias chegam de toda parte.
Eu não posso as evitar
Convivo com a dor do sofrimento alheio.
Eu sou obrigado a também me doer,
Doer-me ate a morte.
Por isso quero lhe falar docemente,
Escutar-me-á, por certo,
Porque você também é gente,
Não me proibirá,
Não me negará um prato de comida
Uma flanela velha
Uma palavra de conforto.
Trago em meu rosto a face do mundo.
O tormento das ondas.
A fome das criancinhas,
A anarquia dos poderosos,
A esperança no amanhecer.
Quero lhe falar docemente,
A linhagem de todos os povos
É aquela linhagem que não precisa falar
Pois é no silencio que respeitamos os mortos
E daremos a vida aos vivos
E dignidade aos seres.
É no silencio que lançaremos um raio de luz
Sobre aqueles corpos inocentes.

Escutar-me-á, por certo
Quero lhe falar docemente.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Falei

um presente

O escravo do destino